quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Dizem que nossas novelas são as melhores do mundo. Embora possa não parecer, para nós que vivemos em terras tupiniquins, tenho que concordar: somos bons noveleiros. Isso faz com que, vez por outra, grandes e belas pérolas surjam e façam nossa cultura mais rica.

A composição que escolhi para hoje é um desses presentes.

A novela “Que Rei Sou Eu?”, regada a um bom humor de forte cunho político filosófico, traz como tema essa bela musica do grupo Sagrado Coração da Terra, não sei se pela influência do Marcos Vianna ou pela influência do grupo sobre ele, o álbum tem forte teor místico com influências da musicalidade oriental.

Pensando nisso sinto que realmente só a boa magia poderia nos tirar do profundo abismo político financeiro que vivíamos nos idos memoráveis do final da década de 80: a morte do primeiro presidente não militar, o governo do vice José Sarney, a implantação do plano cruzado com seu congelamento de preços a moeda virando cruzado, os questionamentos sobre Angra I e II... Quanta saudade das lutas de capa e espada e dos diálogos críticos, ácidos e de profunda filosofia dos personagens Aline, Jean Pierre, Ravengar e tantos outros, e para quem acha que eu tenho boa memória uma simples consulta a Wikipédia ajudou muito.



Mas vamos ao que interessa.


Flecha
Sagrado Coração da Terra

Vivem como se fosse a última vez
Correm como se o tempo fosse parar

Não sabem que vida é uma flecha
na velocidade da luz
e com movimento de sonhos
do corpo o amor conduz

Livres corações de vidro
do cristal da estrela
tá no seu abrigo Luz

Ouçam
chamam por nós
na voz dos vulcões
vejam
na mar da noite a luz
de mil sois
entres torres de aço
e concreto
e nuvens de poluição
alarme dos vigilantes
do espaço conquistam o
teu coração

suave como a luz da aurora
anelar como luz das paixões
bem vinda e terra, fogo e o ar

ouça nossa voz com as estrelas
ouça a nossa voz com as estrelas do amor
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Se fossemos pensar no contexto político da época teríamos grandes verdades:

- o desespero do brasileiro para manter a vida, o simples direito a sobrevivência, a luta com o famigerado dragão da inflação.
- a ingenuidade política do nosso povo de um modo geral. Nosso corações de vidro são fáceis de ser lido, por outro lado são endurecidos e de pouco valor diante da riqueza de nossas terras, a grande verdade é que enquanto povo temos Corações de Diamante enquanto nação realmente tínhamos e as vezes penso que ainda temos Corações de Vidro.
- a insurgência social que culminaria na eleição de Fernando Collor de Melo, a voz dos vulcões.

Poderíamos pensar ainda um mar de relações mas gostaria de abordar o aspecto humano e místico da canção.

Sejamos nós católicos, protestantes, budistas, brâmanes, ortodoxos, espírita, umbandistas ou espiritualista de qualquer designação, a verdade é que cremos que a alma sobrevive ao corpo mas vivemos desesperados como se a vida na Terra fosse a única que temos. Sendo flechas nos preocupamos mais com a velocidade que podemos atingir do que com o arqueiro e o arco que nos arremessam e pouco menos nos atemos ao alvo que objetivam nos lançando na vida.

Sendo vaso sagrado que guarda o ser essencial (nossa alma ou espírito) o corpo sonha com aquilo que é do espírito: a felicidade! Só alcançável por aqueles que amam o amor que podem amar, sem construções idealizadas do amor, sem quantificar o amor. O amor do Cristo, de Buda, de Einstein, de Krisna, de Vixunu, de Francisco de Assis ou mesmo de Chico Xavier, Irmã Dulce ou Betinho , não são maiores que os nossos em quantidade a grande diferença é que eles amaram o que podiam amar e como podiam amar tendo o outro como exemplo e não como alvo. Nossos problemas não é que queremos ser como Jesus e que queremos ser Jesus.

Nos esquecemos que somos livres e dentro do nosso peito pulsa uma estrela, abrigo de nossa alma. O amor, a honestidade, a dignidade e todas as virtudes são forças naturais em nós mas aceitamos as rédeas da cultura e tentamos tamponá-los e vez por outra eles explodem como forças incoercíveis ou puros e simples como foram criados ou nas suas representações inversas e corrompidas mas ainda assim representação das virtudes. As vezes por ressonância nos deparamos com os mártires da história, verdadeiros vulcões de alteridade, que nos convocam e sensibilizam a mudança. Antes no plano das idéias (nossos Avatares, Numes, Musas, Anjos, Guardiães, Mentores, Guias ou somente amigos...) algumas vezes nascem entre nós, vigilantes do espaço, vozes das estrelas inspirações do amor.

De tudo me fica a perspectiva de sendo eu a flecha, o arqueiro sendo Deus, ou eu mesmo, e a vida o arco qual é o meu alvo, fim pretendo atingir com meu crescimento. Tenho esperança de compreender-me para não interferir no ritmo da luz intima que me impulsiona porque embora o tempo não pare posso reduzir a marcha de meus objetivos e parar no tempo.

Beijo a todos.

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